Numa Carta Apostólica, em dezembro de 1988, João Paulo II firmou três princípios fundamentais. São os seguintes: Nunca se pode perder de vista que Cristo ressuscitado está sempre presente e agindo na Liturgia; a Leitura da Palavra de Deus e a Liturgia são indissociáveis; a Igreja manifesta sua verdadeira natureza na Liturgia. O que muitas vezes se esquece é que a Liturgia é um serviço. Ela não é um one-man-show do Sacerdote, nem um espetáculo da assembléia, mas, sim, um diálogo para fazer viver este serviço de Deus e dos homens.
Por ser um dos lugares de proposição da fé, é importante que a Liturgia seja bela e atraente. Daí a importância da observância das rubricas por parte do Oficiante, da meticulosa preparação dos Leitores, dos cânticos apropriados e bem ensaiados. O que não se pode olvidar é o liame profundo que há entre a Liturgia e a Fé. Por isto mesmo nada mais nefasto do que uma Liturgia degenerada, fruto de uma criatividade mal orientada. Esta afasta a interioridade que é essencial no trato com Deus, impedindo que se penetre fundo no mistério celebrado. A realidade sacramental fica tantas vezes obnubilada. Daí a necessidade da preparação das equipes de liturgia que não podem se transformar em mensageiras de textos de um vazio lamentável, por vezes até agredindo a unidade litúrgica da solenidade celebrada. O ato litúrgico por excelência, é a oração, a prece que forma o núcleo da Eucaristia. A oração abre o espaço para que Deus possa agir, Ele que fala nas Leituras e nos Cânticos. Donde a relevância na Missa da Liturgia eucarística a partir da preparação das oferendas. Quantas vezes, porém, a grande preocupação é com o “artista” que vai entoar o Salmo responsorial, procurando-se um ator de talento para uma exibição efêmera. Nem se poderia esquecer o valor imenso que oferece o silêncio que favorece uma participação verdadeiramente profunda, pessoal, permitindo escutar interiormente as mensagens do Senhor. Tais momentos são uma parte relevante da celebração, sobretudo no instante sacrossanto da Consagração. Cumpre, de fato, dar à Liturgia, em plenitude, a dimensão do sagrado. Ela não pode ser um festival ou uma reunião de mero regalo artístico. A Liturgia é o Deus três vezes santo presente entre os fiéis, é a sarça ardente, é a aliança do Ser Supremo com a criatura racional em Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote. A grandiosidade da Liturgia não se fundamenta no fato dela oferecer um passatempo religioso. Ela consiste bem mais no ato de tornar perceptível a presença do Espírito santificador. A qüididade da Liturgia é, portanto, o mistério que se realiza no rito comum da Igreja. Os fiéis, aliás, muitas vezes se sentem iludidos quando o mistério se transforma em fortuita distração, quando o autor principal não o Deus vivo, mas o animador litúrgico. Dentro destas considerações, vale lembrar o quanto fica deformado, por exemplo, a última prece antes do Rito da Comunhão. O fato de em muitas Igrejas os fiéis não acompanharem as palavras do Sacerdote em silêncio, mas numa velocidade atordoante, entrando junto com o Oficiante, não apenas ocasiona uma falta de concentração na beleza desta doxologia, como também se esvazia o Amém, este sim, respondido ou cantado pela comunidade que entendeu o louvor dirigido ao Pai através do Filho na unidade do Espírito Santo e que, deste modo, pode proclamar solenemente este Amém, isto é, assim seja, estamos imersos nesta adoração do Todo-Poderoso. O mesmo se diga da Oração antes da Comunhão na qual se pede a paz que é própria do celebrante. O fato dos participantes da Missa entrarem junto é resquício de uma teoria que foi combatida veemente pela Igreja, segundo a qual os batizados concelebram com o Celebrante ! Acrescente-se que João Paulo II pouco antes de vir a falecer chamou a atenção também para o momento após esta oração da paz, ou seja da saudação em Cristo Jesus. Esta deve ser dada ao vizinho ou à vizinha e não é permitido pelas normas litúrgicas sair pelo templo afora transformando um instante que deve ser de recolhimento para a recepção da Comunhão num tumulto inteiramente descabido.Como bem se expressou o teólogo Marsili Salvatore, “De imensa importância é o fato de que a liturgia, antes de ser a ação da igreja diante de Deus, é a ação de Cristo na igreja, de modo tal que a liturgia precede a Igreja com prioridade tanto de natureza quanto de lógica, já que a Igreja primeiro é sujeito passivo da liturgia, depois é que se torna sujeito ativo”. A Liturgia é, de fato, elemento constitutivo da Igreja. Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana - MG
Professor no Seminário de Mariana - MG
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